quarta-feira, 23 de março de 2011

Aparência


E eu me vejo no espelho, e o que vejo parece tão pouco e tão superficial para se seguir uma vida. Então tiro os olhos do reflexo e os fecho, e assim aprendo a ver além do que se pretende. E esta é uma decisão que só se pode tomar por vontade própria. Decisão essa, que pode ser tomada por cansar da superficialidade de uma vida guiada pelas aparências, cansar de algumas vezes se menosprezar por um padrão específico, que parece ser imposto para que ninguém o alcance, ou cansar de uma sociedade que quer fazer, até mesmo das pessoas, produtos em massa, onde cada vez mais o especial é ignorado e o igual é absorvido na mente das pessoas como o certo a se seguir.

Fixo agora meus pensamentos em tudo aquilo que realmente pode fazer um "ser humano" se tornar ser humano de verdade, de alma, de coração... Penso em tudo aquilo que me torna quem eu sou, que mesmo tendo falhas intermináveis em meu caráter, aquilo tudo me torna a pessoa que as pessoas identificam como eu. E ainda sei que todas as coisas que existem em mim que podem produzir algo de bom para os outros, ou até mesmo pra mim, podem ser maiores do que meus defeitos e podem superá-los quando eu entender que eu posso ser um produto são em uma sociedade doente.

E vendo cada centímetro de tudo aquilo que o espelho não me mostra, penso que o conjunto faz o que eu sou hoje. Assim como quando sinto não é só o meu coração que sente, mas sim o meu corpo inteiro, quando vivo minha vida, não posso viver só pelo que se pode ver por fora, pois assim só me permito viver pela metade, ou nem isso pois a aparência não corresponde a nem 1% do que somos.

Começo a sentir uma felicidade por notar que tenho coisas tão especiais dentro de mim e as ruins parecem começar a ir embora, e me sinto mais completa por pensar que as pessoas que convivem comigo, aquelas que posso chamar de amigos, estão ali pelo que eu sou por dentro, pois a aproximação por aparências não dura, é fútil e mesmo existindo muito são tão superficiais que saem da nossa vida o mais rápido do que chegaram.

E isso se torna um exercício diária, de lutar para quando abrir os olhos não me preocupar com aquilo que vejo, se me agrada ou não ou, o mais perigoso, se agrada os outros ou não, mas sim com aquilo que sei que está ali e que os outros só terão a chance de conhecer se a sua aproximidade for sincera em me conhecer como pessoa, uma pessoa com defeitos e qualidades, um ser humano de verdade.



Jéssica Porciuncula de Souza

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